Agronegócio
Embargos à carne do Brasil seriam tentativa de reduzir preços
Diretor técnico da associação que representa os pecuaristas de Mato Grosso diz que é preciso separar o que é feito dentro e fora da lei
Eventuais embargos à carne bovina do Brasil, levando em conta as queimadas e o desmatamento na Amazônia, podem estar associados a uma tentativa de reduzir preços de produtos de exportação. É o que sugere o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, em entrevista à Globo Rural, na última sexta-feira (23/8).
“Fico apreensivo, mas associo isso a muito mais uma tentativa de reduzir preços. Acho que, no fundo, eles sabem que isso não é verdade”, diz ele, em relação a um possível vínculo da da pecuária bovina com a atual situação na região amazônica. Na sexta-feira (23/8), o governo da Finlândia, que preside a União Europeia (UE), disse que pretende propor um banimento da carne bovina do Brasil no bloco.
Francisco Manzi pontua que incêndios podem ter várias causas. Reconhece, no entanto, que “não podemos tapar o sol com a peneira” e negar a existência de ações ilegais. E que é preciso separar o que é feito dentro e fora da lei.
A posição da Acrimat é a favor do desmatamento ilegal zero e que os produtores rurais ajam de acordo com o que está previsto no Código Florestal. A legislação atual prevê a possibilidade de abertura de 65% da área da propriedade quando estiver localizada no Cerrado. No bioma amazônico, a proporção é de 20%. Nas demais áreas do país, a área passível de abertura é de até 80%.
“Somos radicalmente contra o desmatamento ilegal. Pode desmatar, desde que seja dentro da lei”, diz; Francisco Manzi.
“Somos radicalmente contra o desmatamento ilegal. Pode desmatar, desde que seja dentro da lei, respeite áreas de preservação permanente (APP), reserva legal (RL) e que o pecuarista só faça algo depois de receber o licenciamento ambiental”, diz ele, destacando que a associação faz cartilhas e informes sobre o assunto.
Sobre a reação do governo brasileiro aos questionamentos do exterior, Francisco Manzi destaca que é preciso separar declarações isoladas, feitas muitas vezes pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, do que é posicionamento oficial. Pondera, por outro lado, que o agronegócio vem sendo bombardeado e tenta convencer com argumentos, mas não tem como passar todo o tempo se defendendo dos críticos.
Na avaliação do diretor técnico da Acrimat, os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente têm se manifestado de acordo com o que acreditam os produtores rurais do Brasil. “A ministra Tereza Cristina já afirmou por várias vezes que os produtores rurais também são vítimas do que está ocorrendo. Isso é mais do que uma fala isolada do presidente, que não se sabe se foi tirada do contexto”, diz Manzi.
Nesta sexta-feira (23/8), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou não haver razão para eventuais embargos ao Brasil usando como argumento a situação da Amazônia. Reconheceu que há queimadas feitas ilegalmente os culpados devem ser punidos, mas não se pode “misturar todo mundo” nem dizer que o agronegócio é o grande destruidor do país como argumento para embargar produtos.
Frigoríficos
Procuradas, indústrias de carne bovina não mencionaram diretamente preocupações com eventuais problemas para a exportação. Reforçaram, no entanto, compromissos com a sustentabilidade e a conservação da Amazônia. A Minerva Foods destacou que as suas compras de gado são feitas em fazendas monitoradas e de acordo com o que chama de rigorosos critérios socioambientais.
Em comunicado, a empresa ressalta que auditoria externa recente atestou o cumprimento de compromissos assumidos pela empresa desde 2009. Informa ainda que seu programa de rastreabilidade inclui cruzamento de dados com os sistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério do Trabalho e do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
“Caso seja identificada qualquer irregularidade, o departamento de sustentabilidade da companhia bloqueia os fornecedores em não conformidade com qualquer um dos critérios, eliminando a compra de matéria-prima de tais produtores”, diz a nota.
A Marfrig Global Foods informa também ser signatária de acordos pela sustentabilidade na cadeia de fornecimento desde 2009. Em comunicado, a empresa afirma manter seu compromisso público com o desmatamento zero no bioma amazônico, não comprando animais de áreas de desmatamento, embargadas pelo Ibama, além de unidades de conservação e terras indígenas.
E acrescenta ter desenvolvido plataforma de monitoramento de seus fornecedores. Segundo a empresa, o sistema se baseia em georreferenciamento e informações de satélite para monitoramento de áreas e de informações socioambientais dos criadores de gado de quem adquire os animais, “aplicando rigorosamente todos os critérios de sua política de compra de gado”.
Fonte: Globo Rural
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