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Agronegócio

Nova espécie de tambaqui sem espinhas intramuscular é identificada na Amazônia

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Uma produtora de alevinos de Rondônia descobriu a espécie sem espinhas Y, como são chamadas aquelas que ficam na carne, e agora o prazer em apreciar o peixe pode mudar

Rondônia é o maior produtor de peixes em cativeiro do Brasil, e, segundo dados da Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia (Acripar), a produção da safra 2017/2018 de peixes foi de 84,9 toneladas. Dessas, cerca de 91% corresponde a produção do tambaqui. Um peixe que faz sucesso na culinária amazônica, seja assado, frito ou cozido, é sempre bem-vindo, mas pela quantidade de espinhas acaba sendo um desafio degustá-lo sem preocupação. Por acaso, uma produtora de alevinos (peixes recém saídos dos ovos) do Estado, descobriu uma nova espécie do tambaqui: os sem espinhas Y, aquela que fica na carne (intramuscular), e agora o prazer em apreciar o peixe pode mudar.

“O tambaqui sem espinhas Y foi encontrado casualmente por meio de um cliente, que queria uma nova safra de alevinos, assegurando que seria sem espinhas como do lote anterior. Eu duvidei e ele me convidou para ir ver os peixes. Ele assou 4 tambaquis, dois tinham espinhas e outros dois não, eu na hora comprei de volta os peixes dele, e tinham 134 ainda do lote”, conta o engenheiro de pesca Jenner Menezes, da Biofish Aquicultura.

A saga para identificar os tambaquis sem espinhas começou em 2012, como conta o engenheiro Jenner. “Foi uma epopéia para conseguir um Raio-X, para radiografar os 134 peixes, ou então teria que levá-los à uma clínica radiológica. Era uma operação de guerra, ainda em 2012 e 2013. Depois de uns 6 meses eu consegui um veterinário que estava trazendo um Raio-X portátil para Rondônia, fui buscá-lo no aeroporto e ele nunca imaginou que ia radiografar peixes. De lá, identificamos 50 tambaquis sem espinhas”, disse Jenner, ressaltando ser a formação do primeiro lote do peixe no mundo.

Com os tambaquis sem espinhas Y, Jenner procurou pesquisadores para o estudo do lote, e chegou até o geneticista professor doutor Alexandre Hildsorf, da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), que o acompanha nas pesquisas.

“O que eu tinha descoberto, com os tambaquis sem espinhas, era a materialização da teoria de pós-doutorado do Alexandre, que fala em espécies que perderiam as espinhas Y, que foi o caso dos peixes da família caracídeos, onde o tambaqui está inserido”, conta.

Os estudos foram iniciados, e, dos primeiros cruzamentos entre os tambaquis radiografados sem espinhas, nasceram de outras formas. “A descoberta é muito complexa, em alguns casos voltavam as espinhas, em outros só na calda, outros de um lado, outros sem espinhas, e com isso, estamos trabalhando tentando afinar para chegarmos a 100% de peixes sem espinhas”, disse Jenner.

O Dr. Alexandre Hildsorf afirma que o desenvolvimento de variedades genéticas sem essas espinhas intermusculares seria uma verdadeira revolução na criação de algumas espécies de peixes. “Devemos lembrar que nem todas espécies de peixes tem estas espinhas. Por exemplo, tilápias, tucunarés e outros peixes dessas famílias (os ciclídeos) não as tem, assim como os bagres. Assim, a ausência dessas espinhas poderia impulsionar a aquicultura de várias espécies de peixes de nossas águas, tais como os Matrinchã, curimbatás, traíras e naturalmente o tambaqui e o pacu”, disse.

Hildsorf também conta que uma colaboração com o Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos e Aquicultura da Universidade de Mogi das Cruzes busca estudar os animais sem espinhas e tentar entender os mecanismos genéticos que controlam a ausência destas espinhas. “Desenvolvemos uma ferramenta de ultrassonografia para avalias os animais e publicamos 3 artigos em periódicos nacionais e internacionais sobre o tema”, explica.

Produção em massa

As pesquisas feitas por Jenner, através da Biofish, ainda demandam tempo, e, segundo o engenheiro, o avanço na descoberta melhoraria muito a cadeia de produção.

“O benefício de termos um lote de tambaquis sem espinhas é o fato mais importante para a piscicultura do Brasil, no momento. Essa espinha intramuscular é o principal entrave na produção em cadeia do tambaqui, e uma vez descoberto e planejado para produção massiva, teremos um filé sem espinhas com um melhor corte, em nível de frigorífico, uma redução no desperdício, onde se perde de 11 a 13% da carne com remoção de espinhas, sem falar em tempo, que economizaríamos “, ressalta Jenner.

O lote dos 50 tambaquis sem espinhas Y está em observação, e, segundo Jenner, não há previsão para fornecimento dos peixes.

“Ainda não temos lotes puros sem espinhas para fornecer, além de termos mais um agravante, que é o tempo de maturação sexual do tambaqui, de 2 anos e meio a 3 anos, então na medida que você faz uma geração precisa esperar esse tempo para um novo teste. Uma pesquisa de médio a longo prazo e de benefícios enormes”, disse Jenner.

Não há um valor ainda mensurado para preços dos alevinos sem espinhas, mas as pesquisas continuam em várias frentes.

A espinha Y do tambaqui

O geneticista professor doutor Alexandre Hildsorf explica que a presença dessas espinhas pode estar relacionada ao tipo de propulsão no meio aquático. “O que os estudiosos nesta área propõem é que a presença destas espinhas confere transmissão de força aos segmentos da musculatura e firmeza corporal. Contudo, os animais que temos hoje sem espinhas, aparentemente não apresentam nenhuma deformidade e incapacidade natatória. Como disse, outros peixes como os bagres não têm as espinhas e não apresentam problemas”, finaliza.

 Fonte: Portal Amazônia


DRT: 1908 /RO

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