Agronegócio
Fazenda em Rondônia “sai da retranca”, inova e lucra R$ 1 mil por boi
Entrando em seu oitavo ano desde que foi instituído na Fazenda Evelyn, localizada no distrito de Triunfo, município de Candeias do Jamari-RO, o Programa Touro Zero, idealizado pelo médico veterinário e consultor Ademir Ribeiro, já está perto de encontrar a sua forma final. Isto porque quando foi implementado em 2012, o objetivo era que levasse até dez anos para ajustar todos os ponteiros e trazer para a propriedade o lucro máximo estimado pelo sistema de produção. Em entrevista ao Giro do Boi nesta terça, 31, o consultor Ademir Ribeiro falou sobre a evolução do programa, que no último embarque de gado gordo para a indústria já rendeu à fazenda lucro de R$ 1.000,00 por cabeça.
O programa consiste na engorda intensiva de animais meio-sangue taurinos europeus, como Angus, Charolês ou Black Simental para que estejam pronto para o abate antes dos 20 meses de idade com cerca de 20@. Para os machos chegarem a esta fase da vida produtiva com bom acabamento de gordura, o sistema lança mão da castração ao nascimento (junto à cura do umbigo, veja no link abaixo). Foi por causa da reprodução feita via inseminação artificial e ainda pela castração necessária para o abate dos machos que o programa foi batizado como “Touro Zero”.
“O programa consiste exatamente em planejamento e gestão. Precisamos ter o GMD alto, que é o ganho médio diário e, para isto, nós utilizamos reprodutores taurinos europeus. Estes reprodutores taurinos europeus não trabalham a campo aqui em Rondônia no clima tropical, tipo o Angus, o Charolês, o Simental preto. E estes animais têm um metabolismo endógeno acelerado, tudo que você coloca de comida para eles, eles devoram. Só que em contrapartida, eles têm uma conversão extraordinária. E como o programa é para abate de 14 a 16 meses ou no máximo até 20 meses, que é zero dente, nós precisávamos utilizar animais taurinos europeus e é um sucesso”, resumiu Ribeiro.
O objetivo inicial do projeto, conforme admitiu o veterinário, era a venda de bezerros para recria e engorda, e assim foi ao longo dos cinco primeiros anos, até o surgimento de um protocolo de remuneração que viabilizasse a lucratividade da fazenda caso levasse os animais até a engorda – uma mudança que valeu a pena. Segundo confirmou o veterinário, o último lote abatido pela propriedade com estas características foi feito na Friboi de Vilhena-RO, no Protocolo 1953, em que os animais superprecoces tiveram 19,5@ de peso médio com 55% de rendimento de carcaça e lucro que chegou aos R$ 1.000,00 por cabeça, segundo confirmou o consultor.
“E quando você faz um animal desse aí muita gente acha que a conta não fecha e é o contrário. Na verdade, o nosso GMD é gigante. Desde quando nasce, passa de 1 kg por dia, 900 gramas de carcaça dia. E o que acontece? Nós temos um custo no geral, somando tudo, de R$ 2.500,00. Esses animais, quando são abatidos, passam dos R$ 3.500,00, então a questão é fornecer comida com força, fazer ganhar peso e terminar uma carcaça que o mercado quer para carne premium e isto não é fácil”, declarou. Mas apesar do resultado já expressivo, o consultor reconheceu que melhorias ainda precisam ser feitas. “Por isso nós estamos no sétimo ano e ainda não conseguimos chegar no “ponto x” ainda, que vai mais uns três anos para adequar tudo isto”.
Mais recentemente, o confinamento foi adotado como sistema de engorda padrão para o atingimentos das métricas desejadas pelo Programa Touro Zero. Em resumo, Ademir detalhou que os bezerros já são criados com creep-feeding e ração com 20% de proteína. Na desmama, os animais são destinados para o piquetão ou sistema rotacionado, recebendo ração com 1,5% do peso vivo e 17% de proteína. Em cerca de dois meses, ou quando já chegaram às 11@, são destinados ao confinamento, onde recebem 2% do peso vivo para que estejam terminados para abate a partir dos 14 meses. No cocho, a ração fornecida já vem pronta e batida, sendo composto por ingredientes como milho, farelo de soja, casquinha de soja peletizada, virginiamicina, monensina, tamponantes, vitaminas e os micro e macrominerais.
Segundo o consultor, o fato de os machos serem castrados ao nascimento facilita o manejo ao longo do processo. “O hormônio que desenvolve este animal não é a testosterona até a puberdade, e sim o GH (siga em inglês para growth hormone, ou hormônio do crescimento), que é a somatotropina. Como o Programa Touro Zero são os animais que serão abatidos zero dentes ou dente de leite, não dá nem tempo de ele utilizar como anabolizante a testosterona. Nós transformamos isso no cocho, desde quando ele nasce ele fica numa ração 20%, come à vontade, que aí é o pulo do gato, a nossa recria no pé da vaca. Então quando ele sai dessa vaca aos oito meses, ele já pula para um piquetão numa ração de 1,5% do peso vivo, dois meses depois é pesado. Pesou 11@, macho e fêmea, confinamento na dieta total, que é com 2% do peso vivo. Então tem que castrar, vai conseguir abater o animal com 18@, 19@ […] e vai conseguir com 120 dias de confinamento uma carcaça terminada no padrão da JBS 1953”, comentou Ademir.
Com os ajustes mais recentes do sistema, a fazenda fechou 2019 com 2,3 ua/ha de lotação média e um lucro que chegou aos R$ 1.900,00 por hectare. “Pecuária é um bom negócio para quem investe certo. […] Nós não estamos jogando na retranca, o pecuarista precisa focar em receita e não focar em custo. Tem que sair da retranca. Este é o posicionamento que tem que assumir”, encorajou o veterinário.
Ademir comentou ainda que o sistema, com os devidos ajustes, pode ser aplicado para pecuaristas que desejam usar touros para cobrir vacas a campo, como Nelore, Senepol, Caracu ou Brahman, que fazem bem a tarefa no clima de Rondônia. Além disto, o consultor disse que é possível fazer a engorda de animais Nelore nas mesmas medidas, com a diferença de que o zebuíno estará em média sempre uma arroba atrasado em relação ao taurino. O essencial, segundo o veterinário, é que o produtor faça o desembolso necessário para o animal ganhar peso e devolver o dinheiro, com lucros, à fazenda.
Fonte: Rorural
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