Saúde
Homem que recebeu vacina de Oxford contra COVID-19 fala sobre sua experiência
Enquanto todo o mundo aguarda pela vacina da COVID-19, algumas pessoas vêm passando pela experiência de serem as primeiras a receberem as doses. Esse processo de testes é essencial para conferir a eficácia da vacina, e a pessoa precisa estar ciente de todos os riscos que pode correr ao deixar algo completamente novo e relativamente desconhecido entrar em seu organismo.
Richard Fisher, um dos participantes dos testes da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, relatou ao site do BBC o que aprendeu em sua participação no programa e como foi esse processo. A vacina da Oxford se chama ChAdOx1 nCoV-19 e é uma das mais promissoras do mundo, até então.
O processo
Ele conta que tudo começou em maio, quando se cadastrou no site oficial para um voluntário da vacina. Então, não demorou muito para que precisasse ir ao Hospital St. George, em Tooting, no sul de Londres, para começar. Foram 10 mil participantes que foram divididos em um grupo: um recebeu a vacina e outro uma dose de uma vacina chamada MenACWY, que protege contra meningite e sepse.
Os médicos explicaram a Fisher que ele precisaria relatar o seu histórico médico, assim como se ele já havia sentido algum sintoma da infecção pelo novo coronavírus. Os participantes precisaram ainda assinar um documento garantindo que não iriam doar sangue, permitiriam aparecer em fotografias e que quaisquer amostras coletadas seriam fornecidas como um “presente à universidade”. Além disso, eles precisaram comprovar estarem cientes de possíveis efeitos colaterais, desde os mais simples, como dor de cabeça, até os mais graves, como a Síndrome de Guillain-Barré, que ataca as células nervosas.
Algumas semanas após receber a dose, no dia 20 de julho, os pesquisadores anunciaram que a vacina trouxe resultados iniciais bastante promissores, de acordo com os testes das primeiras 1,077 pessoas. Os participantes precisaram retornar ao hospital para coletar mais sangue e fazer o teste da COVID-19, aquele que usa os cotonetes longos.
A vacina, então, não só pode ser considerada segura, como também efetiva na hora de ativar a resposta imune do organismo. Ainda há, no entanto, algum trabalho a ser realizado. As próximas etapas envolvem testar em humanos uma dose ainda mais forte da ChAdOx1 nCoV-19 em milhares de pessoas, voluntárias não só no Reino Unido, como aqui no Brasil e na África do Sul.
Questionamentos
Fisher diz que, infelizmente, no seu caso, acredita que os testes da vacina que recebeu não trarão muitas respostas quanto à sua eficácia, uma vez que o Reino Unido já não está em uma situação tão grave quanto por aqui. Ele espera que pelo menos alguns dos 10 mil voluntários iniciais se deparem com o vírus e apresentem uma boa imunidade, comprovando que a dose funciona.
Ele comentou ainda que se considera um voluntário com poucos dados, pois não costuma pegar transporte público e nem recebe pessoas que não moram com ele, por exemplo, e que seus resultados podem ser insignificantes. “Para distribuir uma vacina para milhões (ou para o mundo inteiro), é preciso um nível de confiança que só pode vir com paciência e mais dados”, diz Fisher.
John Bell, professor de medicina da Universidade de Oxford, contou à BBC que a responsabilidade da fabricação e distribuição da vacina é muito grande. “O trabalho mais difícil é da regulação, que é quem vai dizer se (a vacina) é segura e eficaz para distribuir ao público. Eu não iria querer esse trabalho. É uma decisão muito difícil”, diz.
Aprendizado
Fisher destaca ainda que a vacina não vai ser a grande salvadora da pandemia, assim como o mundo espera, pois ela pode não exterminar de uma vez o vírus, mas sim amenizar suas consequências. Enquanto todos não forem vacinados, pessoas assintomáticas podem continuar espalhando o SARS-CoV-2 por onde passam.
Para o voluntário, ter recebido a dose-teste da vacina trouxe, sim, algum conforto, mas isso não significa que seus comportamentos serão alterados daqui em diante, e que isso é um alerta dado pelos pesquisadores. Richard disse estar satisfeito em ter a oportunidade de fazer parte destes testes que envolveram 10 mil pessoas, e que a resposta da Oxford em relação à crise é impressionante.
Antes da pandemia, muitos desses médicos e pesquisadoras estavam trabalhando em cantos relativamente obscuros ou pediatria, seguindo com seu trabalho por curiosidade científica ou sendo individual de propósito. Eles nunca imaginaram carregar as esperanças e expectativas de bilhões de pessoas sobre seus ombros”, completa.
Fonte: BBC
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