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Coronavírus: como uma indústria têxtil fez com que a adversidade se transformasse em recomeço
Enquanto a pandemia arrasou diversos negócios, a empresa de médio porte Delfim corajosamente andou na contramão: o investimento de R$ 1 milhão no desenvolvimento de um tecido antiviral que inativa o vírus em um minuto garantiu que a empresa surfasse a onda da inovação nesse período crítico
A pandemia da Covid-19 para muitas empresas veio como um verdadeiro tsunami. Arrasou negócios, baixou portas, tirou emprego de colaboradores e levou muita gente a ficar sem rumo. Para outros, ela veio como uma oportunidade de descobrir novos horizontes, de se reinventar e alcançar novos caminhos, muitas vezes inimagináveis. Esse foi o caso da Delfim, indústria de médio porte especializada em produção têxtil com mais de 60 anos de estrada no mercado nacional. Do limão – no caso, o coronavírus – a Delfim fez uma limonada doce e lucrativa: desenvolveu o DelfimProtect, um tecido inovador antiviral que é capaz de inativar a ação do vírus em um minuto, segundo dado comprovado em laudo emitido pela Unicamp.
Essa largada na frente foi possível graças à visão da companhia, que desde quando o assunto virou notícia na China, acionou o modo ‘atenção’ e refletiu sobre como as coisas seriam quando a doença chegasse no Brasil. Porém, não imaginava que de sua linha de produção sairia um produto com uma relevância tão significativa e que fizesse sucesso em tão pouco tempo. “Nós não fazíamos ideia onde esse produto iria nos levar, pois ele se mostrou muito mais potente sob o ponto de vista antiviral. E ele nos permitiu surfar muito bem essa onda de inovação”, conta o executivo.
A Delfim vinha em um bom ritmo de resultados de vendas no início do ano – o carro-chefe da companhia é o tule – porém, com a pandemia, os negócios deram uma esfriada. Mas o DelfimProtect ganhou protagonismo e permitiu que a empresa atravessasse os primeiros meses mais críticos da pandemia sem precisar demitir nenhum colaborador. Concedeu férias coletivas, interrompeu a produção, porém, nesse período concentrou seus esforços totalmente na realização dos últimos testes científicos de validação do tecido, que se diferencia por ser 100% poliéster, possuir alta eficiência da filtração bacteriana superior a 93% (o padrão exigido pela ABNT é de 70%) e repelência à água.
Enquanto boa parte do setor lacrou suas portas, cortou custos, perdeu pedidos, demitiu pessoas, teve dificuldade de acesso ao crédito e amargou prejuízos – segundo um levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit) feito em junho deste ano, 96% das empresas do mercado tiveram queda na carteira de encomendas, sendo que mais da metade das fábricas (55%) registrou redução maior do que 50% no número de pedidos – a Delfim caminhou corajosamente na contramão. Investiu cerca de R$ 1 milhão para viabilizar o DelfimProtect. “A dor de barriga veio para todo mundo. Eu aprendi que você tem que ir para frente. Cada vez que você recua, para dar um passo para frente há uma grande inércia a ser vencida. E nós decidimos apostar no produto, mesmo sofrendo muitas críticas pela nossa ousadia. Se não tivéssemos feito isso, estaríamos no retrocesso”, reflete Mauro.
Para garantir que tudo corresse bem com o desenvolvimento do DelfimProtect e alinhar o cenário da empresa para colocá-lo no mercado, Mauro não agiu sozinho. Contou com um suporte de várias frentes: um comitê gerencial que se encarregou de levantar as condições da companhia e fazer os ajustes necessários, fez contato com médicos infectologistas para trocar informações, teve o apoio dos fabricantes das máquinas de sua linha de produção, a participação de uma equipe interna que detém um forte conhecimento sobre malha e a parceria da Nanox, empresa ligada à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Foi um trabalho bastante disruptivo, desenvolvido de forma rápida, por quase 20 mãos. Nada teria acontecido sem esse time”.
Com o sucesso do DelfimProtect, a Delfim teve que ajustar sua capacidade de produção de sua linha. As máquinas, que antes eram mais dedicadas à fabricação do tule, passaram a produzir o produto. De 60 mil metros/mês, saltou para 500 mil metros/mês. E, de acordo com Mauro, a capacidade produtiva tem fôlego para atingir até 1 milhão de metros/mês. E ele está confiante nisso. “Tem muito mercado e demanda para isso. O tecido deixou de ser usado só para a confecção de máscaras”, analisa. Hoje é possível encontrar o DelfimProtect em toalhas de restaurantes, aventais de uniformes de garçons, equipamentos de EPI, uniformes hospitalares. Mas o céu é o limite, na visão do executivo da Delfim. “Já existem clientes utilizando o produto em camisetas e calças com punho”.
Esse passo dado pela Delfim coloca a empresa em uma situação estratégica neste momento, porém também diante de novos desafios: a busca por novas inovações não pode parar. “Essa é uma crise diferente das outras. É mundial, que tirou nossa capacidade de planejar o ano seguinte. Para lidar com as incertezas e o medo, temos que continuar inovando. Nosso mercado principal é o tule, cujo principal período de venda do ano é o carnaval. Já sabemos que em 2021 a festa não será realizada e, por isso, não podemos ficar parados. Temos que ajudar a sociedade a resolver outros problemas”.
Pensar no outro é algo que faz parte do DNA da Delfim. Duas decisões mostram esse princípio. Uma delas foi não repassar integralmente o custo da produção do DelfimProtect para o cliente, tornando o tecido acessível para o mercado. A outra foi uma parceria feita com o G-10 Favelas, que possibilitou a doação de um volume de tecidos equivalente a três mil máscaras para o projeto Costurando Sonhos. “Nós ampliamos nossa preocupação social para além dos portões da empresa. Isso permitiu que muita gente possa se proteger adequadamente durante a pandemia e várias costureiras possam levar comida para casa nesses tempos difíceis”, aponta Mauro.
Perante o setor, o presidente da Delfim está orgulhoso e com os resultados obtidos. Espera que seu exemplo sirva de incentivo para os demais empresários a assumir uma postura mais corajosa perante à crise. “É muito gostoso ver que as coisas estão funcionando, que fomos na contramão e que valeu cada investimento”. Para este ano, a expectativa é fechar o período com tudo equilibrado, sem perda de receitas. “Nós não vamos crescer em 2020, mas se fecharmos no zero a zero será uma grande conquista. A incerteza é a única certeza que nós temos neste momento. Tudo o que fizemos nesses últimos meses será nossa base para que nos próximos dois anos possamos retomar o crescimento”, conclui.
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