Meio Ambiente
Mais de 80 mil hectares foram desmatados em Rondônia nos primeiros oito meses de 2022
De acordo com o INPE, número de árvores derrubadas por minuto chega a 52 em Rondônia.
Quase 83 mil hectares de floresta foram desmatados em Rondônia nestes primeiros oito meses de 2022, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). A área derrubada equivale a quase 116 mil campos de futebol.
Mas esses números, apesar de altos, ainda tornam difícil visualizar a perda de biodiversidade que essa derrubada causa. Segundo levantamento da Plena Mata, isso equivale a 46 milhões e 500 mil árvores cortadas.
A queima da floresta é outro tipo de crime florestal ligado ao desmatamento. Em Porto Velho, o 5º município do país com o maior número de queimadas, de acordo com o INPE, o número de árvores derrubadas por minuto chega a 52.
Isso significa a perda de espécies frutíferas, que alimentam a população e a fauna, de espécies medicinais (que são a base para a produção de medicamentos da população tradicional e a indústria farmacêutica), além de ornamentais e tantas outras que são casa de insetos e microorganismos essenciais para a regulação da floresta.
Com o aquecimento superficial do solo, já confirmado por estudos da Universidade Federal de Rondônia (Unir), como um fator de impacto e o constante desmatamento, são cada vez mais comuns os mosquitos transmissores se reproduzirem, causando problemas endêmicos.
Um estudo publicado pela Academia Brasileira de Ciências tem relatado que as atividades humanas como desmatamento, uso da terra para mineração ou construção de rodovias e hidrelétricas, caça ilegal e criação de gado tem transformado a Amazônia em possível foco de doenças e zoonoses que estão surgindo.
De acordo com o estudo, a destruição do habitat pela fragmentação da floresta e a redução da biodiversidade causam distúrbios ecológicos que aumentam o risco de surgimento de novas doenças infecciosas e até mesmo pandemias.
O artigo mostra que a biodiversidade é um fator crucial para o controle de patógenos relevantes na natureza. E por que isso acontece? É como se a floresta atuasse como um “diluidor”; segundos os autores do estudo, quanto mais biodiversidade, mais provável que haja uma diluição da densidade de hospedeiros e também de vetores que transmitem doenças,/além de aumentar a diversidade de predadores e competidores. E isso reduz o risco de novas zoonoses e gera um escudo para a saúde pública.
Portanto, não é só a floresta e o clima que sofrem os impactos desse processo. De acordo com uma pesquisa realizada em Porto Velho, e mais outras oito capitais da Amazônia Legal, a devastação impacta diretamente no espaço urbano. E na capital de Rondônia, a população que mais sofre, segundo os pesquisadores, é a população negra, especialmente as mulheres negras e os indígenas.
Segundo levantamento do estudo “Impactos das Mudanças do Clima na Urbanização Desigual de Porto Velho (Rondônia)” elas são as mais afetadas em decorrência das desigualdades existentes, com por exemplo: a falta de acesso às condições básicas de saneamento básico, abastecimento de água, moradia e acesso aos serviços de saúde.
Porto Velho está entre as piores cidades em ranking de saneamento há oito anos, aponta estudo
Apenas 32,9% da população tem acesso a água tratada em Porto Velho, aponta o estudo do Instituto Trata Brasil. Além disso, o estudo também mostra que a capital de Rondônia:
- atende apenas 5,16% da população com o serviço de coleta de esgoto;
- teve o menor percentual de atendimento de água em 2020: 32,87%;
- teve 0% do esgoto tratado;
- teve 84,01% de perdas na distribuição de água;
- deixa de faturar 82,09% da água produzida.
Por isso, o geógrafo Diosmar Filho, da Associação de Pesquisa Iyaleta, ressalta:
“No nosso estudo, buscamos mensurar os impactos das mudanças climáticas, aquelas dimensões médias, aquelas que envolvem precipitação de chuva, risco de enchentes, deslizamentos, interrupção de redes de abastecimento e produção alimentar. Uma segunda dimensão no estudo é a de condições extremas de chuva, ciclone; e uma terceira dimensão, que tem a ver com a mudança de exposição biológica e os fatores de impacto nos vetores de transmissão de doenças. Hoje, a população já sofre com os impactos das chamadas arboviroses.”
As arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos. As arboviroses mais comuns em ambientes urbanos são a dengue, zika e chikungunya.
Muito da problemática, alerta o pesquisador, tem relação com o processo de urbanização desigual em que a população negra está destinada à viver nas periferias da cidade, que são áreas mais passíveis de serem atingidas por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos pelas mudanças climáticas.
As pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais.
Além disso, chama atenção no estudo a densidade populacional de Porto Velho e distritos. Na área urbanizada de Porto Velho, de aproximadamente 96,42 km² (0,28% do território municipal) a densidade populacional é de 4.010 hab./km² (altamente denso). Nesta, o serviço de esgotamento sanitário adequado alcançava apenas 42,80% da população e as vias públicas urbanizadas alcançava apenas 21,70% do perímetro urbano.
Melhorias
A pesquisa é um caminho para ajudar na construção de políticas públicas voltadas à essa população afetada.
“Esses dados são importantes para serem colocados em conjunto com os dados de revisão do Plano Diretor dos municípios, para que as mudanças climáticas sejam consideradas, junto com a saúde, com os aglomerados subnormais da área urbana, entre outros fatores, para que haja uma mudança positiva”, diz Diosmar Filho.
Alertando também para o planejamento e execução de ações que coíbam as mudanças climáticas, com especial atenção ao desmatamento e queimadas que afetam sobremaneira o aquecimento superficial do solo, afetando o regime de chuvas da região, os ecossistemas aquáticos e a vulnerabilidade humana.
Fonte: G1/RO
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