Imagens da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré criadas com Inteligência Artificial

“A ideia surgiu a partir daí: reimaginar momentos. Como teria sido andar nessa estrada à noite, como era o dia a dia desses funcionários… será que eles paravam para almoçar dentro do trecho? Quais eram os desafios?”, conta o publicitário.

Transportando os seringueiros, garimpeiros, passageiros e mercadorias, a Estrada de Ferro percorreu trajetos que levaram ao nascimento de Porto Velho e, consequentemente, do estado de Rondônia. E é justamente essa importância que o Viktor quer evidenciar na obra.

“A proposta do projeto é resgatar o interesse das pessoas pela Estrada de Ferro, por esse imaginário que está se perdendo. As pessoas estão olhando para fotos preto e brancas, para locomotivas enferrujadas e a gente esquece que tudo aquilo ali é estória. E eu falo estória com ‘E’ e não com ‘H’”.

Para chegar às 16 imagens divulgadas no Instagram, Viktor e a empresa de publicidade que ele fundou, fizeram mais de 200 testes. Do período de idealização até o produto final, foram necessários pelo menos dois meses de trabalho. Mas todo o esforço foi recompensado pela resposta do público.

“A gente recebeu feedback de pessoas que choraram vendo as imagens, que disseram: ‘me arrepiei, lembrei do meu vô, me lembra um trecho que eu fui quando era criança’. Quando você vê o feedback e sabe o trabalho que percorreu para chegar aquelas imagens, você fala: ‘olha como esse trabalho é importante para resgatar isso nas pessoas’”, diz.

Mas a pergunta que não quer calar é: como é possível uma inteligência artificial criar imagens tão antigas que nunca existiram?

“Ela [a ferramenta] é baseada em texto, então você envia informações de texto para uma IA e ela vai pegar essa informação, com base em um banco de dados que ela já possui de bilhões de imagens, e vai construir uma imagem baseada no que você pediu”.

Além das imagens que já foram divulgadas, o Viktor já armazena outras 50. O objetivo dele é montar um livro com figuras e contos sobre a EFMM, mas ressalta, bem humorado:

“Aí o texto vai ser escrito por mim, não tem inteligência artificial”.

Trabalhadores de diversas nacionalidades trabalharam na ferrovia e vários deles acabaram morrendo, sobretudo vítimas da Malária. Por conta das mortes, a EFMM recebeu apelidos como: “Ferrovia do Diabo” ou “Ferrovia da Morte”.

No entanto, apesar do passado doloroso, a Estrada de Ferro deu origem ao estado de Rondônia. À sua volta nasceu a capital, Porto Velho, durante o período em que a ferrovia era construída.

Atualmente, o complexo da EFMM é tombado como Patrimônio Cultural Brasileiro, através do Ministério da Cultura.

“Qual é a mensagem desse projeto [da Inteligência Artificial]? É que essa história é nossa, ela nos pertence e a gente tem o direito de contar. E aí eu falo não só da parte histórica, que tá muito bem documentada por ótimos historiadores que nós temos, mas porque não começar a contar essa história de um ponto de vista fantástico, imaginativo?”, pontua Viktor.

Com toda essa história de transformar pessoas, paisagens e até pontos turísticos através da inteligência artificial, surge um grande debate: a arte de robôs vai substituir a arte feita por humanos? O Viktor responde:

“A capacidade do ser humano de transmitir, através da sua arte, o seu sentimento, seus valores, quem ele é, é algo intrínseco do ser humano, que a inteligência artificial ainda não é capaz de mimicar”.

Para ele, o grande benefício da arte feita pela IA é a possibilidade de criar coisas que não seriam viáveis através do trabalho manual.

“Hoje é muito difícil você fazer arte. Você depende de cursos, de muito esforço, de ferramentas que são caríssimas. Contratar uma mão de obra de um bom artista também custa muito caro, com toda justiça do mundo, porque é caro ser um artista. A IA veio para democratizar o acesso a esse tipo de arte”.

Fonte: G1/RO