Agronegócio
A tecnologia de aplicação na proteção dos polinizadores
O final do inverno, no mês de setembro, marca o início dos preparativos para uma nova safra agrícola em boa parte do Brasil. Essa preparação inclui, com destaque, algumas atividades, como o manejo da vegetação – geralmente composta por plantas daninhas (que nascem espontaneamente) ou pelas chamadas “culturas de cobertura”, que ocupam as áreas nas quais serão semeadas novas lavouras, como as de soja e milho.
Em alguns casos, os agricultores realizam na mesma operação a adição de algum produto com ação inseticida, visando o controle de pragas que possam estar previamente na área, como lagartas e percevejos. Entretanto, durante esse processo, o agricultor deve estar ciente da importância da proteção dos polinizadores, que são insetos benéficos.
Em uma pesquisa exploratória, conduzida pela AgroEfetiva em parceria com o programa Colmeia Viva – do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) – e a HP AgroConsultoria, abrangendo diversas culturas e propriedades rurais, foram identificadas práticas que garantem a coexistência e a complementaridade entre a agricultura e a apicultura.
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Uma das soluções que ganham destaque no Brasil e no mundo é o controle biológico. O uso dessa tecnologia ajuda a atingir alvos específicos, sem prejudicar as abelhas. A utilização de inseticidas seletivos durante períodos de visitação das abelhas na cultura também é fundamental. Além disso, outra iniciativa positiva é a adoção da dessecação antecipada, estratégia que visa a aplicação de herbicidas antes do florescimento das plantas daninhas.
O tratamento de sementes também tem despontado como técnica importante. Nessa prática, inseticidas são aderidos à superfície das sementes que serão depositadas no solo. Isso protege as plantas das pragas nos estádios iniciais de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, evita o contato com as abelhas. Ademais, o uso de cultivares transgênicas (como as chamadas “plantas Bt”), que possuem genes específicos com efeito apenas sobre lagartas que se alimentam dessas plantas, ajuda a proteger as abelhas, pois há redução da utilização de inseticidas.
Além das práticas discutidas anteriormente, mais ligadas ao MIP (Manejo Integrado de Pragas), a pesquisa identificou que as boas práticas apícolas são fundamentais para evitar a mortalidade de abelhas. Por exemplo, como durante o inverno as abelhas tendem a ficar mais debilitadas, podendo até haver morte de colônias, a suplementação alimentar e de água durante esse período mais frio do ano é fundamental. Nesse caso, o controle de pragas que acometem as colônias também deve ser feito, bem como a notificação de localização dos apiários, com o objetivo de ajudar no planejamento das operações. De forma geral, a profissionalização dos apicultores ajuda na preservação das abelhas, pois o manejo adequado resulta em colmeias fortes e saudáveis.
Por fim, aspectos ligados à tecnologia de aplicação também são fundamentais para a preservação das abelhas e a produção agrícola. Assim, é necessário evitar pulverizações no horário de visitação das abelhas, avaliar se o vento está na direção de apiários, comunicar o apicultor sobre as pulverizações para que ele possa adotar medidas adequadas e usar técnicas de redução de deriva (TRD) – como pontas de pulverização adequadas.
A complementaridade e a coexistência entre a agricultura e a apicultura representam a realidade do campo. Afinal, já existe ampla busca dos apicultores por áreas com plantas cultivadas (como citros) para instalação dos apiários, bem como a busca dos agricultores por serviços de polinização. Entretanto, essa ainda não é uma realidade bem estabelecida, especialmente nos casos de culturas beneficiadas ou não dependentes. A boa notícia é que já há conhecimento e técnicas disponíveis para ajudar nesse avanço, fundamental para o desenvolvimento sustentável, quantitativo e qualitativo das produções agrícola e apícola brasileiras. Mais do que uma necessidade, essa é uma exigência da sociedade.
¹ Engenheiro agrônomo, pesquisador na AgroEfetiva, Botucatu/SP
² Professor Titular do Dep.de Engenharia Rural, FCA/UNESP, Campus de Botucatu/SP
³ Zootecnista, HP Agroconsultoria, Maringá/PR
Por: Beatriz Pedrini
Texto Comunicação
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