Agronegócio
Estratégia nutricional é chave para produzir mais e melhor na pecuária leiteira
Por Vanessa Carvalho, zootecnista, doutora em nutrição de ruminantes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e gerente técnica de bovinos da Phibro Saúde Animal
Sabidamente, a pecuária leiteira é uma atividade com muitos desafios e gargalos. Sazonalmente, produtores deparam-se com incertezas e questionamentos sobre como se comportará o mercado e qual é a melhor estratégia para ter lucratividade. A alternativa que parece ser a mais rápida e simples à primeira vista é a redução dos gastos com concentrado, ingrediente que mais impacta no custo, e remoção dos aditivos da nutrição, insumo que parece não ser essencial naquele momento.
No entanto, essa decisão deve ser tomada com cautela, já que a retirada desses nutrientes da dieta causará redução na produção de leite por vaca. Assim como em qualquer outra atividade, ser estratégico é fundamental para manter a lucratividade e rentabilidade do negócio. Quando essa estratégia é aliada ao conhecimento e às tecnologias disponíveis no mercado e que foram desenvolvidas exclusivamente para a correta alimentação dos animais, o produtor pode enxergar um bom caminho à frente.
É importante avaliar que as necessidades nutricionais das vacas envolvem dois componentes: manutenção e produção. Os requisitos de manutenção incluem os nutrientes que as vacas precisam para viver e se manter. Eles são usados para as funções metabólicas, como caminhar, respirar, digerir alimentos e regular o calor do corpo. Quando os requisitos de manutenção são atendidos, os nutrientes restantes são usados para a produção de leite e outras funções, como reprodução e desenvolvimento. Sendo assim, ao remover insumos importantes para atender as exigências dos animais, podemos estar interferindo na produção de leite.
Dessa maneira, faz-se necessário avaliar os diferentes indicadores associados à lucratividade e não somente focar na diminuição dos custos de produção. Dentre os diferentes indicadores determinantes para a rentabilidade do negócio, a produção de leite por vaca faz a diferença. Afinal, a maior produção proporciona mais renda x o custo da alimentação, mesmo quando os preços do leite são baixos e os custos dos insumos estão elevados. Assim, é importante buscar a maior produção de leite para que ocorra a diluição dos custos e a lucratividade se mantenha ou até mesmo aumente.
Ao procurarmos na literatura, encontramos diversos autores e publicações citando indicadores que são determinantes para o sucesso da rentabilidade da pecuária leiteira mesmo que em épocas de crise. Um exemplo é o trabalho de Michael Hutjens (“Feeding dairy cows for profitability in 2011 and beyond“, publicado em 2011, na Universidade de Illinois), que fez uma pesquisa relacionada à crise do preço do leite em 2009, nos Estados Unidos. Naquele momento, o preço do leite teve redução acentuada (40%) e rápida (em menos de dois meses), permanecendo durante dez meses abaixo do custo de produção. A pesquisa envolveu 32 nutricionistas, nove veterinários e dez educadores para entender os fatores e decisões corretas e incorretas durante a crise que ditaram a rentabilidade das fazendas.
Um ponto bastante importante é a remoção dos aditivos da composição nutricional, que aparece na pesquisa como a segunda atitude incorreta durante a crise. Os aditivos, muitas vezes, são vistos como não necessários, mas, na verdade, podem estar relacionados a diferentes pontos decisivos para a maior ou menor rentabilidade. A retirada dos aditivos em alguns momentos pode não afetar diretamente a produção de leite. Porém, pode atingir a imunidade, o crescimento e a fertilidade das vacas, o que resulta em impacto econômico negativo, que pode ser difícil de identificar e recuperar. Além disso, outro fator importante que também pode ser afetado pela retirada de aditivos é a contagem de células somáticas. O autor cita que o aumento na contagem de células somáticas (CCS) devido à redução da imunidade e saúde leva à perda de 0,9 a 1,2 quilos de leite por vaca por dia.
Outra publicação, feita por Jim Salfer, professor extensionista da Universidade de Minnesota (“Keeping Your Herd Profitable in Today’s Economic Environment“, publicada em 2016), revela estratégias importantes para manter a rentabilidade da pecuária leiteira. Dentre elas, a maximização da receita sobre o custo de alimentação, a maximização da produção do rebanho, a prenhez mais rápida das vacas, a produção de leite de maior qualidade e os cortes de custos inteligentes.
Para atendermos às estratégias citadas, alguns fatores devem ser levados em consideração. Não se deve fazer modificações na alimentação que possam comprometer a saúde do rebanho e a produtividade futura e deve existir foco no programa de vacas de transição. As vacas que fazem uma boa transição para a produção, além de melhorarem a reprodução e aumentarem a produção de leite, terão menor risco de descarte ou mortalidade precoce na lactação e risco reduzido de se tornarem um descarte involuntário. Outro fator importante é o custo de reposição, que é o segundo ou o terceiro maior custo em fazendas leiteiras. Reduzir os abates involuntários resultará em menos reposições necessárias, com vacas permanecendo por mais tempo em lactações posteriores de maior produção.
Portanto, podemos afirmar com segurança que a busca pela redução dos custos de produção deve ser discutido com atenção, mas esta pode não ser a melhor estratégia. Devemos focar na saúde dos animais e no volume de produção de leite aliado à eficiência. Talvez o indicador mais assertivo a ser utilizado nessas situações é a Receita Menos o Custo com a Alimentação (RMCA), pois nos mostra o quanto está realmente sobrando para pagar as outras despesas da fazenda, descontada a alimentação dos animais.
Por: Vitorya Paulo/Texto Comunicação
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